
Ciclo reprodutivo feminino
O ciclo reprodutivo feminino envolve tanto as fases ovariana e uterina quanto as variações hormonais que as regulam. Durante os anos férteis, mulheres que não engravidam apresentam mudanças cíclicas nos ovários e no útero. Cada ciclo dura, em média, 28 dias e compreende a ovogênese e a preparação do útero para uma possível gestação. Esses processos são controlados por hormônios secretados pelo hipotálamo, pela adeno-hipófise e pelos ovários.


Hormônios do ciclo reprodutivo
O GnRH (Gonadotropin-Releasing Hormone – hormônio liberador de gonadotrofinas), secretado pelo hipotálamo, controla os ciclos ovariano e uterino. Ele estimula a liberação do FSH e do LH, a partir da adeno-hipófise. O FSH, por sua vez, inicia o crescimento folicular e a secreção de estrogênios pelos folículos em crescimento.

O LH estimula o desenvolvimento posterior dos folículos ovarianos e toda a sua secreção de estrogênios. Na metade do ciclo, o LH desencadeia a ovulação e, em seguida, promove a formação do corpo lúteo, a razão para seu nome, hormônio luteinizante. Estimulado pelo LH, o corpo lúteo produz e secreta estrogênios, progesterona, relaxina e inibina.

A função dos estrogênios
- Promovem o desenvolvimento e a manutenção das estruturas genitais femininas, das características sexuais secundárias e das glândulas mamárias. As características sexuais secundárias incluem a distribuição do tecido adiposo nas mamas, no abdome, no monte do púbis e nos quadris, uma pelve ampla e o padrão de crescimento capilar na cabeça e no corpo.
- Estimulam a síntese de proteínas, agindo juntamente com fatores de crescimento semelhantes à insulina, com a insulina e com os hormônios tireoidianos.
- Melhoram o perfil lipídico sanguíneo ao estimular o aumento de receptores de LDL no fígado, elevar a síntese de HDL e regular enzimas que participam da produção e degradação de lipídeos.
A progesterona, secretada principalmente pelas células do corpo lúteo, atua juntamente com os estrogênios para preparar e manter o endométrio para a implantação do blastocisto — estágio inicial do embrião, formado a partir do zigoto após várias divisões celulares — além de preparar as glândulas mamárias para a secreção de leite.

Um pequena quantidade de relaxina, produzida pelo corpo lúteo durante cada ciclo menstrual, relaxa o útero, inibindo as contrações do miométrio. Presume-se que a implantação de um blastocisto ocorra mais prontamente em um útero “calmo”. Durante a gravidez, a placenta produz muito mais relaxina e continua a relaxar o músculo liso uterino. Ao final da gravidez, a relaxina também aumenta a flexibilidade da sínfise púbica e ajuda a dilatar o colo do útero, facilitando o parto do bebê.
A inibina é secretada pelos folículos em crescimento e pelo corpo lúteo após a ovulação. Ela inibe a secreção de FSH e, em menor extensão, de LH.
Fases do ciclo reprodutivo

A duração do ciclo reprodutivo feminino varia de 24 a 36 dias e pode ser dividido em quatro fases:
Fase menstrual
Também chamada de menstruação, dura aproximadamente os primeiros cinco dias do ciclo. Por convenção, o primeiro dia da menstruação marca o primeiro dia de um novo ciclo.
Eventos nos ovários
Durante a fase menstrual, vários folículos ováricos crescem e aumentam.
Eventos no útero
O fluxo menstrual do útero consiste em 50 a 150 ml de sangue e células teciduais provenientes do endométrio. Essa descarga ocorre porque o nível decrescente de hormônios ovarianos (progesterona e estrogênios) faz as artérias uterinas se contraírem. Como resultado, as células que irriga se tornam privadas de oxigênio e começam a morrer. Finalmente, parte do endométrio se desprende. O fluxo menstrual passa da cavidade uterina para o colo do útero e, pela vagina, para o exterior.
Fase pré-ovulatória
É o período entre o fim da menstruação e a ovulação. A fase pré-ovulatória do ciclo é responsável pela maior parte da variação na extensão do ciclo. Em um ciclo de 28 dias, dura de 6 a 13 dias.
Eventos nos ovários
Sob influência do FSH, vários folículos continuam a crescer e começam a secretar estrogênios e inibina. Por volta do 6º dia, um único folículo em um dos dois ovários amadurece antes do que todos os outros e se torna o folículo dominante. Estrogênios e inibina secretados pelo folículo dominante diminuem a secreção do FSH, o que provoca a interrupção do crescimento e a degeneração dos outros folículos menos desenvolvidos. O folículo maduro continua a aumentar até que esteja pronto para a ovulação, formando uma protuberância vesicular na superfície do ovário.
Eventos no útero
Estrogênios liberados no sangue por folículos ovarianos em crescimento estimulam o reparo do endométrio. À medida que o endométrio se espessa, as glândulas endometriais se desenvolvem, e as arteríolas se espiralam.
Ovulação
A ovulação corresponde à ruptura do folículo maduro e à liberação do ovócito. Esse processo é desencadeado pelo aumento dos níveis de estrogênio na fase pré-ovulatória, que exerce um efeito de retroalimentação positiva sobre o hipotálamo e a adeno-hipófise. Como resultado, o hipotálamo libera mais GnRH e a hipófise aumenta a secreção de LH. Esse aumento em cascata culmina no pico de LH, responsável pela ruptura do folículo e pela saída do ovócito.
Fase pós-ovulatória
É o período entre a ovulação e o início da próxima menstruação.
Eventos em um ovário
Estimuladas pelo LH, as células foliculares remanescentes aumentam e formam o corpo lúteo, que secreta progesterona, estrogênios, inibina e relaxina. Essa fase também é chamada de fase lútea. Eventos subsequentes dependem da fertilização do ovócito. Se o ovócito não for fertilizado, o corpo lúteo dura apenas duas semanas, após as quais sua atividade secretora declina.
À medida que os níveis de progesterona, estrogênios e inibina diminuem, a liberação de GnRH, FSH e LH se eleva, em razão da perda de supressão por retroalimentação negativa pelos hormônios ovarianos. Posteriormente, o crescimento folicular é retomado, e começa um novo ciclo ovariano.
Se o ovócito for fertilizado e começar a se dividir, o corpo lúteo persiste após sua vida útil normal de duas semanas. É “resgatado” da degeneração pela gonadotrofina coriônica humana (hCG, do inglês human chorionic gonadotropin), um hormônio produzido pelo embrião a partir de aproximadamente oito dias após a fertilização.

Como o LH, a hCG estimula a atividade secretora do corpo lúteo. A presença de hCG no sangue ou na urina maternos é um indicador de gravidez e é também o hormônio detectado pelos testes caseiros de gravidez.
Eventos no útero
A progesterona e os estrogênios produzidos pelo corpo lúteo promovem o crescimento das glândulas endometriais, que começam a secretar glicogênio, e promovem a vascularização e o espessamento do endométrio. Essas mudanças preparatórias atingem um pico aproximadamente uma semana após a ovulação, momento em que o zigoto pode chegar ao útero.

Vídeos
Desenvolvimento fetal

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Referência
TORTORA, Gerard J.; DERRICKSON, Bryan. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. Tradução: Alexandre Lins Werneck et al. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.